O livro A criança intersexo: entre silenciamentos e a normalização compulsiva de corpos lança um olhar multidisciplinar sobre as violações à autonomia da criança intersexo em um cenário no qual, a partir de um ?design? heteronormativo, ?fabricam-se? ou ?recriam-se? corpos com o auxílio da tecnologia. A obra dedica-se ao estudo de pessoas que nascem com a condição intersexo e que, por não possuírem uma anato¬mia idealizada a partir de parâmetros culturais binários, causam estranheza, levan¬do-as à estigmatização e à marginalização. À luz das perspectivas teóricas de Michel Foucault, a autora apresenta críticas ferrenhas ao saber médico que descreve a criança intersexo como alguém que precisa, com urgência, ter o corpo ?corrigido?, ?normalizado?, por intermédio de procedimentos cirúrgicos e terapêuticos. A partir de censura e discriminação disfarçada de proteção, corpos infantis são mutilados nos centros cirúrgicos, com o intuito de que se encaixem em uma categoria ?natural? e, então, não causem estranhamento social. É nesse contexto marcado por uma realidade multifacetada, que apresenta cicatrizes sociais sólidas e profundas, que a autora contesta a patologização da condição intersexo e reconhece que o momento é de rupturas com o discurso normalizador. Por seu conteúdo marcante e linguagem dinâmica, esta leitura torna-se obrigatória a todas as pessoas que desejam mudar esse cenário de invisibilidade, marcado por mutilações genitais, preconceito, desres¬peito aos direitos da personalidade, dignidade humana e autonomia da pessoa intersexo. A obra não apenas aponta os conflitos relacionados à pessoa intersexo de maneira multidisciplinar, mas, sobretudo, apresenta reflexões acerca de soluções viáveis a fim de impedir que crianças intersexo continuem sendo mutiladas em centros cirúrgicos.